sábado, 23 de março de 2013

Os grandes horrores da humanidade estão no meu corpo,
no lado de dentro da minha pele.
E não são vísceras, não são órgãos, nem excreções.
Não são expostos em vitrines íntimas.
não estão à venda em armarinhos secretos.
Não são aplaudidos em espetáculos intimistas.
Estão crús espalhados no dia.
Nuas minhas misérias somadas à multidão,
Desmascarada minha pele rota, minhas rugas fundas
meu peito flácido, minha bunda caída
Do lado de dentro do que sou aflora a morte que me aguarda.
Tranquilo esse rio de sombras e dramas.
O nada que comporta o todo onde minto.
Minto a poesia,
minto o dia,
minto a noite,
minto o amor.
Pinto o disfarce com o qual me visto.
Pinto a alvorada com um sol amarelo.
Pinto a alegria com a qual me inflamo.
Pinto o ódio do qual reclamo.
Rabisco a vida, tracejo um alento...
Mas tudo passa, tudo é vento.
Os horrores estão no meu corpo,
A vida me falsifica,
Eu falseio na vida.